Se as usinas siderúrgicas continuam demonstrando cautela quanto à recuperação da demanda brasileira por aço, mesmo no ano que vem, o mercado financeiro já aposta com mais força que 2017 será de crescimento. A economia dá sinais de melhora e, com a volta da confiança, as vendas podem subir na esteira de baixos estoques, uso de capacidade reduzido e base fraca de comparação.

O BTG Pactual, por exemplo, projeta crescimento entre 5% a 7% no consumo aparente – que reúne produtos importados e nacionais – durante o ano que vem. Em relatório, o banco lembra que por enquanto o que se vê é a estabilização da demanda, mas que há potencial para surpresas positivas em 2017 principalmente por conta do volume muito baixo observado atualmente.

Os analistas Leonardo Correa e Caio Ribeiro, responsáveis pelo texto, lembram que nos últimos cinco anos o consumo recuou quase 40%, uma elasticidade enorme frente ao Produto Interno Bruto (PIB) superior a três vezes, quando o padrão histórico tem sido de 1 a 1,5 vez. Mas eles admitem que faltam evidências mais concretas de que a recuperação será intensa.

“Os últimos dados divulgados mostram a mesma tendência dos últimos meses”, escreve a dupla. “Falta uma pista clara de que uma retomada mais forte é iminente”, acrescentam.

Essa é a mesma visão da maioria dos executivos do setor. Por exemplo, Alexandre Barcelos, diretor financeiro da ArcelorMittal Brasil, não acredita em crescimento muito expressivo daqui para frente, apesar de enxergar ao menos o fim da queda na demanda. Um dos motivos pela cautela seria o grau de dificuldade das reformas pretendidas pelo governo de Michel Temer.

Alexandre Lyra, presidente do grupo Vallourec no Brasil – fabricante de tubos de aço -, alerta para a necessidade de um plano com o governo para evitar que mais usinas sejam fechadas. O uso de capacidade do setor hoje se encontra perto de 60%, sendo que 80% é visto como a taxa mais saudável.

Em agosto, André Gerdau Johannpeter, presidente da siderúrgica que leva seu sobrenome, havia dito em teleconferência que ainda há problemas estruturais no setor, tanto nacional como mundialmente. Por isso, a volta do consumo pode demorar mais do que se pensa. Ele ainda afirmou que o momento atual representa o “começo da trajetória de retomada”.

Sergio Leite, presidente da Usiminas, é um dos mais otimistas. O executivo prevê leve aumento das vendas no segundo semestre, ante o primeiro. Do volume total, 85% deve ir ao mercado interno.

Até ontem, os papéis da CSN subiam 136% no ano e as preferenciais de classe A da Usiminas ganhavam 135%

O J.P. Morgan concorda com a postura mais cautelosa em relação ao setor. Para os analistas Rodolfo Angele e Lucas Ferreira, que publicaram relatório há 15 dias, a visibilidade quanto à demanda por aço no país ainda é muito baixa. “O aumento da confiança não necessariamente vai se traduzir em volumes maiores”, disseram. Em conversas com clientes da siderurgia, a dupla ouviu previsões de alta em 3% a 6% na demanda em 2017.

Dados do Instituto Aço Brasil mostram que a recuperação ainda é, de fato, limitada. Em agosto, as vendas das usinas diretamente ao mercado interno chegaram a 1,48 milhão de toneladas, ainda uma queda de 6,2% em relação ao mesmo mês do ano passado, mas 6,9% a mais do que em julho. No caso de aços longos, o recuo em comparação anual é de 16,6%, mas no período de um mês houve alta de 4,5%. Para aços planos, foram observados aumentos de 1,5% e 8,2%, respectivamente.

O Credit Suisse acredita que os dados mostram uma potencial melhora mais próxima do segmento de planos. A previsão do banco é de crescimento em 2,2% da produção industrial em 2017, o que potencialmente levaria a uma alta de 5% nas vendas de aços planos. Mas a virada em que os analistas Ivano Westin e Renan Criscio apostam é em “U”, e não em “V”, como o mercado financeiro parece considerar no preço atual das ações.

“A retomada da produção industrial e os baixos estoques na cadeia nos fazem acreditar que as vendas de aços domésticos estão para se recuperar no Brasil durante o ano que vem”, escreve a dupla. Mas a valorização dos papéis de Usiminas e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – as duas maiores fabricantes de aços planos – em 2016, segundo o banco, foi rápida demais.

Até ontem, as ações da CSN tinham subido 136% no ano e as preferenciais de classe A da Usiminas acumulavam ganhos de 135%. São as duas maiores altas do Ibovespa, o principal índice, em 2016. A Gerdau, especialista em aços longos, viu seus papéis preferenciais avançarem 91%. Já sua controladora, Metalúrgica Gerdau, figura no terceiro lugar de principais ganhos do índice, com 110%.

O caso da Gerdau é mais de paciência em torno de volumes. Nos Estados Unidos a perspectiva segue positiva, tanto em vendas como em margens – além de a siderúrgica se beneficiar com o câmbio -, mas no Brasil a retomada dependerá bastante dos projetos de infraestrutura anunciados pelo governo.

Em relatório, Humberto Meireles, Marcio Prado e Thiago Auzier, analistas do Goldman Sachs, afirmaram que o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) pode destravar desembolsos entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões para infraestrutura no país. Quem mais ganha nesse cenário é a Gerdau, que vende mais de um terço de seus produtos a esse setor da economia.

Baseado na elasticidade histórica entre esses investimentos e a procura por aço longo, o Goldman calculou que durante os próximos três anos o consumo por esse tipo de aço pode crescer 6,5%. Somando essa oportunidade aos ganhos com o mercado mais aquecido nos Estados Unidos, o banco prevê aumento de 16% até o fim de 2018 no volume de vendas da Gerdau.

Fonte: Valor Econômico

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